sábado, 5 de novembro de 2016

Recontando Histórias: Letícia Rodrigues Borges

LETÍCIA RODRIGUES BORGES – “COSTURAS E VESTIR OS RESTOS DO CORPO”

Eu flutuava e sentia as penas caindo, comecei a tirar as penas, as asas, o sangue, as asas, a carne, foi tudo se desfazendo sobre o chão. Aquilo não doía, mas libertava, eu ficava cada vez mais forte.
Fui retirando a pele, a carne, o sangue, os olhos, os ossos, meu coração, as veias, tudo pesava mas eu retirei e deixei escorrendo. Eu estava livre de mim, daquele corpo que pesava e oprimia e contemplei tudo no chão. Naturalmente o meu corpo se materializou e os cacos no chão me revestiram e eles eram uma espécie de armadura feita sob medida, que deixou o meu corpo fácil, mais vivo e confortável.
O que eu vestia não era uma mera roupa, mas meu próprio corpo. Então eu vou, sentindo que meu coração não era mais um órgão interno, agora ele era externo, exposto para todos verem como era uma fratura exposta que expõe o osso. Não é uma ferida, sim uma forma de ser mais viva. E meu coração estava protegido e forte, apesar de estar tão exposto.

E agora eu vivia mais intensamente que tudo e flutuei livre, empoderada vestindo o que sou e costurei isso no meu corpo.


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