segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Histórias Recontadas: Ligia Marques Rocha Franco

LIGIA MARQUES ROCHA FRANCO - SEM TÍTULO

Este figurino foi desenvolvido a partir de três principais bases: o movimento hippie, o gênero fantasia e a alta costura de Elie Saab.
O movimento hippie iniciado nos anos de 1960 nos estados unidos, foi um movimento que tinha como objetivo desconstruir padrões estabelecidos pela sociedade e pelas economias capitalistas, além do culto à natureza, a emancipação sexual, a não violência e o desapego material... Foi chamado também de movimento de contracultura, sendo presente até hoje em diversos locais do planeta. A fantasia, encontrada dentro dos gêneros de ficção especulativa, apresenta seres místicos fortemente ligados à natureza, magia, objetos e mundos inexistentes, tecnologia e conhecimentos diferentes e tudo aquilo que foge da realidade e do comum... A imaginação, a liberdade criativa, e as diversas formas de expressão, tanto na literatura, quanto no cinema, na música, nas artes plásticas, nos jogos, entre outros, tornaram esse gênero extremamente presente na vida humana. A alta costura do estilista libanês Elie Saab, com seus tecidos leves e fluídos, transparências, bordados, misturas de cores, delineou todo o processo criativo e colaborou na harmonização desses três principais elementos que serviram de inspiração na criação desse figurino.

O figurino possui uma bata, que foi tingida e sofreu processo de aplicações de retalhos, botões, flores de plástico e plumas. A ideia das aplicações surgiu através de influências da cultura hippie, onde tudo é mais artesanal e reutilizado e do universo da fantasia, além disso, as cores escolhidas também basearam-se nesse gênero fantástico. A saia, inicialmente uma cortina já plissada, foi totalmente tingida numa mistura de três cores, azul, verde e lilás, criando o efeito aquarelado. Um elástico foi costurado armando por fim a saia longa e transparente. A capa que também era uma cortina, recebeu aplicações de flores e pequenas pérolas de plástico. Através de uma casa de botão, a capa se fixa na bata para que o figurino se complete.



sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Recontando Histórias: Marlene Rosa

MARLENE ROSA – “1975”

Esta pessoa aqui sou eu nos anos 70. Eu tinha 25 anos. Esta era a roupa que eu usava na festa, este era o meu estilo de roupa e eu amava porque sempre quis ser feminina. Adorava vestir uma saia ou um vestido. Quando fiquei mais madura, queria me vestir como executiva, vestido justo ou taller. Hoje continuo com este mesmo gosto para roupas bem femininas.

Eu achava mesmo que costurando histórias era sobre costurar roupas, e no entanto costuramos histórias, histórias que me emocionaram muito. E me lembrou muito da época que eu comecei a costurar. Aquele conhecimento daquela época eu trouxe pra cá, junto com todo esse conhecimento novo que fui adquirindo.


Recontando Histórias: Malu Mairy

MALU MAIRY – “BASIC DARK 20”

A roupa foi criada com base em alguns ideais pessoais, nela eu tentei expor um pouco da minha indumentária e principalmente o que o meu eu atual expressa, tanto no interior como no exterior.
Para a produção, durante a confecção da roupa foi utilizado um item muito essencial no meu dia-a-dia, quis trazer em cada detalhe um pouco do que expressa meus gostos pessoais e características minhas, isso explica o porque optei fazer uma blusa com "meia-calça". Ela é/era uma meia-calça e fiz ajustes para assim ficar um "cropped". O estilo é praticamente baseado em "Pierrot", personagem do commedia dell'arte que pode ser apresentado como sendo lunático, distante e inconsciente da realidade. Em suas vestes podemos presenciar roupas "colantes" e muitos babados em volta da gola. Além de uma maquiagem pálida entristecedora.
O couro também representa o meu amor pelo item (couro sintético) que não só mostra beleza na estética mas em sua consistência. É também um "tecido" que representa muito minha personalidade e meu amor por adereços do gênero, desde gargantilhas roupas e sapatos; em que no pessoal eu trabalho com, e tento sempre criar coisas novas utilizando do mesmo. Além de lembrar muito os trabalhos burlesques e o mercado "fetichista", que em si é uma as coisas em que mais admiro e opto por trabalhar. Achei necessário acrescentar o "traçado" em couro na blusa pra misturar um lado mais "extrovertido" e chamativo ao quieto e entristecedor da inspiração no Pierrot.
Ainda na mesma produção, contei com uma inspiração rocker, para a confecção do cropped, onde tentei expressar o lado rocker na incrementação de "rebites", desde os pontudos à tachinhas. Outro ponto que eu adicionaria ao trabalho em amor pela parte fetichista e "dark".
As cores utilizadas na saia entraram para quebrar um pouco da parte escura da criação, o roxo porque dava continuidade ainda no tom preto, porém com ar de mais claro, e o rosa para adicionar delicadeza. A saia foi um improviso mas que no fim pode ser chamada como "rosa", só que em vez do vermelho, usei tons claros que ornam como o "preto". Uma boa criação para mostrar que preto não combina só com o preto, e que nem sempre tons claros podem ser vistos como cores "felizes" desde que você os combine com ideias "escuras".
Eu tive como inspirações algumas criações de desfiles "góticos" e ícones que tem o burlesque e fetiche como um de seus trabalhos, além de imaginar ícones dos anos 20 utilizando tal roupa em algumas apresentações teatrais da época. "Ed Wood" seria um ícone perfeito para descrever um pouco do tom da produção, e ainda posso adicionar Tim Burton e Salvador Dalí (saia surrealista em formato de flor) nesse mesmo caminho.

O véu e a gargantilha formam o casal "elegante delicado" da produção, além de criar uma peça com inspiração icônica no cenário teatral francês, e os adereços góticos fetichistas, eu optei por trazer um tom de criação de passarela, o brilho representa o glamour que pode ser visto como o universo das drags e até mesmo eventos mais sofisticados que utilizam de luxo e sedução. E ainda o véu, que representa a delicadeza e o glamour obscuro do traje, e teve a animação “a noiva cadáver” como inspiração.


Recontando Histórias: Camila Cristina Soares de Souza

CAMILA CRISTINA SOARES DE SOUZA – SEM TÍTULO

Este vestido nasceu através de um resgate criativo das minhas origens. Nele busquei representar elementos da cultura afro brasileira, por meio das estampas e das cores vivas e vibrantes.
Olhando para ele vejo meu passado, momento em que me descobri como mulher negra e descendente de africanos, que antes de sofrerem o açoite, eram reais rainhas em sua terra de origem. Com isso, busco esta valorização nobre do meu povo e busco passar também esses valores para a minha filha.

O projeto foi uma construção que acho que já estava acontecendo em mim, e acho que o costurando histórias só amarrou tudo isso, um pouco da minha história, da minha essência, de onde eu vim, pra onde eu quero ir agora.


Histórias Recontadas: Lis Furlanetti Brandão

LIS FURLANETTI BRANDÃO – “SURYA”

Eu comecei o meu projeto com uma paleta de cores. Eu enquanto desenhista “sinto” as cores, cada uma delas me passam uma sensação diferente e eu consigo definir uma “aura” para as coisas. Usei então disso para escolher cores que representassem a minha personalidade, que são os verdes e laranjas; cores fortes que passam certa sensação de segurança e até de “velocidade”, “esperteza” ou “agilidade”. Pronto. As cores estavam escolhidas. Eu já conseguia “sentir” como ficaria o projeto.
Eu havia feito vários rabiscos de peças de roupas que eu gostava, mas demorou um pouco para minha imaginação fluir e eu conseguir criar algo novo, que me representasse. Para isso eu me lembrei do livro que eu estou escrevendo, de uma das suas protagonistas e da grande influência da fantasia em relação ao fantástico e mágico. A protagonista em questão é uma menina que se transforma em leão, então ela possui algumas características leoninas, como o nariz felino, bigodes, orelhas e pés de leão, fora a juba dourada. Como ela foi uma grande influência para o projeto, eu decidi chamá-lo com o nome dela, batizando-o de Surya.
Eu imaginei o colete de couro verde e o saiote, como eu os vestiria. Um pano que se adaptasse ao meu corpo para o colete e algo leve para o saiote. Mas ainda faltavam os laranjas. O saiote (agora uma saia) seria então, não apenas laranja, mas “estampado de fogo”, remetendo a minha personalidade impetuosa e forte.
Apenas uma camisa verde não passaria nenhuma mensagem, logo não teria motivo para estar ali, então comecei a trabalhar com a camisa: alguma coisa que eu pudesse fazer para passar alguma mensagem com aquilo?  Tem mais alguma coisa que eu faça que eu possa inserir aqui? Tinha. Eu sou feminista e decidi expor minha luta ali. Um dos grandes símbolos das passeatas pela mulher são as militantes sem camisa ou sutiã, me inspirando a passar a tesoura em um dos ombros e deixasse um seio a mostra. Mas, como sou menor de idade e não posso me expor (infelizmente), por isso passei um top tomara-que-caia bege, para representar o seio a mostra sem ele estar realmente a mostra. O trabalho no tronco estava pronto? O tórax e um dos ombros estavam muito vazios e eu adoro cachecóis. Não foi preciso nem pensar para um cachecol flamejante aparecer para cobrir o ombro e o seio expostos. O cachecol flamejante foi uma contribuição do meu amigo João Guirau, meu companheiro de aventuras, ou, como diz a minha orientadora, o meu toddynho. João irá me dar várias outras ideias durante o projeto. Agora o tronco estava pronto.  Durante a etapa de costura um bracelete vai entrar na Surya, mas depois.
Faltavam as pernas e as mãos. Nestas eu coloquei luvas sem dedos, marrons, para aumentar o tamanho das mãos sem perder a praticidade. Já nas pernas, a ideia inicial eram um par de polainas compridas e pantufas de pata de leão,  mas isso não foi possível, por isso fiz as polainas de pelúcia e deixei meus pés descalços,  o que acabou por dar um ar selvagem bem legal a Surya.
Na cabeça eu fiz uma maquiagem de leão e prendi meu cabelo para cima, como uma juba. Mas Surya precisava de alguma coisa ali, para ressaltar sua vaidade, por isso coloquei uma flor vermelha em seu cabelo. A flor seria de cetim vermelho, mas achamos uma de seda laranja, e quando a pintamos, ficou meio flamejante, combinando com a saia e o cachecol.

Esse foi o processo de criação da Surya, a roupa que conta a minha história. Até porque sua confecção me aproximou muito do João, e agora seu papel na história da minha vida com certeza é muito maior, já que somos amigos quase inseparáveis desde o dia que desenhei Surya.