sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Histórias Recontadas: Lis Furlanetti Brandão

LIS FURLANETTI BRANDÃO – “SURYA”

Eu comecei o meu projeto com uma paleta de cores. Eu enquanto desenhista “sinto” as cores, cada uma delas me passam uma sensação diferente e eu consigo definir uma “aura” para as coisas. Usei então disso para escolher cores que representassem a minha personalidade, que são os verdes e laranjas; cores fortes que passam certa sensação de segurança e até de “velocidade”, “esperteza” ou “agilidade”. Pronto. As cores estavam escolhidas. Eu já conseguia “sentir” como ficaria o projeto.
Eu havia feito vários rabiscos de peças de roupas que eu gostava, mas demorou um pouco para minha imaginação fluir e eu conseguir criar algo novo, que me representasse. Para isso eu me lembrei do livro que eu estou escrevendo, de uma das suas protagonistas e da grande influência da fantasia em relação ao fantástico e mágico. A protagonista em questão é uma menina que se transforma em leão, então ela possui algumas características leoninas, como o nariz felino, bigodes, orelhas e pés de leão, fora a juba dourada. Como ela foi uma grande influência para o projeto, eu decidi chamá-lo com o nome dela, batizando-o de Surya.
Eu imaginei o colete de couro verde e o saiote, como eu os vestiria. Um pano que se adaptasse ao meu corpo para o colete e algo leve para o saiote. Mas ainda faltavam os laranjas. O saiote (agora uma saia) seria então, não apenas laranja, mas “estampado de fogo”, remetendo a minha personalidade impetuosa e forte.
Apenas uma camisa verde não passaria nenhuma mensagem, logo não teria motivo para estar ali, então comecei a trabalhar com a camisa: alguma coisa que eu pudesse fazer para passar alguma mensagem com aquilo?  Tem mais alguma coisa que eu faça que eu possa inserir aqui? Tinha. Eu sou feminista e decidi expor minha luta ali. Um dos grandes símbolos das passeatas pela mulher são as militantes sem camisa ou sutiã, me inspirando a passar a tesoura em um dos ombros e deixasse um seio a mostra. Mas, como sou menor de idade e não posso me expor (infelizmente), por isso passei um top tomara-que-caia bege, para representar o seio a mostra sem ele estar realmente a mostra. O trabalho no tronco estava pronto? O tórax e um dos ombros estavam muito vazios e eu adoro cachecóis. Não foi preciso nem pensar para um cachecol flamejante aparecer para cobrir o ombro e o seio expostos. O cachecol flamejante foi uma contribuição do meu amigo João Guirau, meu companheiro de aventuras, ou, como diz a minha orientadora, o meu toddynho. João irá me dar várias outras ideias durante o projeto. Agora o tronco estava pronto.  Durante a etapa de costura um bracelete vai entrar na Surya, mas depois.
Faltavam as pernas e as mãos. Nestas eu coloquei luvas sem dedos, marrons, para aumentar o tamanho das mãos sem perder a praticidade. Já nas pernas, a ideia inicial eram um par de polainas compridas e pantufas de pata de leão,  mas isso não foi possível, por isso fiz as polainas de pelúcia e deixei meus pés descalços,  o que acabou por dar um ar selvagem bem legal a Surya.
Na cabeça eu fiz uma maquiagem de leão e prendi meu cabelo para cima, como uma juba. Mas Surya precisava de alguma coisa ali, para ressaltar sua vaidade, por isso coloquei uma flor vermelha em seu cabelo. A flor seria de cetim vermelho, mas achamos uma de seda laranja, e quando a pintamos, ficou meio flamejante, combinando com a saia e o cachecol.

Esse foi o processo de criação da Surya, a roupa que conta a minha história. Até porque sua confecção me aproximou muito do João, e agora seu papel na história da minha vida com certeza é muito maior, já que somos amigos quase inseparáveis desde o dia que desenhei Surya.


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